7. Limghla
Nas Ruínas de Limghla, Jiamadu encontrou uma câmara secreta. Lá dentro, uma antiga urna de pedra era bloqueada por um pesado pilar danificado que ficou apoiado sobre ela. Com grande esforço, o primogênito do grande líder Jiam conseguiu empurrar a viga inclinada só um pouco, usando o próprio peso da pedra na direção para a qual já pendia. Foi o suficiente para abrir uma brecha na urna e revelar um butim de impensáveis tesouros antigos. Jiamadu começou a pegar tudo que cabia em sua sacola. Com isso a urna ficou mais leve e o peso da coluna inclinada a empurrou. O velho pilar tombou sobre outro e este sobre mais um, fazendo a velha construção desmoronar.
O estrondo e a poeira levantados pelo desmoronamento chamaram atenção do povo de Limghla, que correu até o limite entre a cidade e o Oásis para ver o que havia acontecido. Foi quando Lahal, que havia sido levado também pelos guardas que o vigiavam, viu algo que lhe parecia miragem. Uma versão mais jovem de Jiam emergiu da trilha, em sua montaria, coberto de poeira.
Após as devidas apresentações e longas atualizações sobre as peripécias de cada um, Jiamadu contou que mal teve tempo de fugir do desmoronamento. De fora, ele viu a bela ruína desmantelar sobre as próprias fundações, desaparecendo na paisagem pedregosa entre as montanhas do oásis de Limghla.
Os chefes de Limghla reagiram ultrajados ao saber que o jovem havia destruído suas ruínas sagradas. Os guardas já se preparavam para prender também a Jiamadu quando o jovem abriu um fardo repleto de relíquias valiosas.
Jiamadu deu a maior parte do tesouro para os líderes de Limghla, dizendo:
“Eu encontrei o tesouro e quase morri para tirá-lo das ruínas, mas a riqueza das Ruínas de Limghla pertence ao seu povo. Assim procede o grande líder Jiam de Lim e também procedo eu, seu filho, assim como farão todos os seus cavaleiros. Entrego essas relíquias como gesto de boa-fé e amizade, pois todos os povos de Oumaji são um só povo aos olhos do Deserto.”
Com isso, a desconfiada cidade de Limghla juntou-se à aliança da cavalaria. Lahal de Sihala foi considerado afiançado e posto em liberdade. Houve festa e dança naquela noite.
Não muito depois, Jahal e Jiamadu encontraram Jiam no local previamente combinado. Mesmo informado pelo filho a respeito dos perigos descritos pelo povo nômade, Jiam decidiu que deveriam seguir viagem, adentrando as encostas frias além de Lala. Depois de conquistar aliados e, principalmente agora que seu filho e sucessor estava com ele após descobrir um tesouro, Jiam tinha mais certeza que nunca de que atendia um chamado do destino.
Após curta estadia na agora vibrante cidade de Sihala, Bahu e Dozo seguiram viagem para o leste, chegando a Limghla. Ao contrário de seus antecessores, foram bem recebidos e ouviram as histórias sobre Jiam e o tesouro encontrado por seu primogênito.
A dupla agora sabia que estava na trilha certa e Bahu mal podia esperar para reunir-se ao pai e ao irmão em suas aventuras. Já o velho cavaleiro Dozo se arrepiou ao saber que os outros, a despeito do alerta dos nômades, se aventuraram pelas perigosas terras geladas.
Yejion, a primeira cidade pela qual a Dozo e Bahu passaram, também estabeleceu relações comerciais com Lim e Sihala.
Apesar da aridez cáustica da península, Yejion era rica em cactus e favoreceu-se grandemente do processo de beneficiamento da planta. Com isso, os nativos dali ganharam fôlego para domesticar alguns cavalos selvagens que habitavam os campos ao norte. A curiosidade e engenhosidade conquistaram um lugar privilegiado na cultura de Yejion desde então.
A fartura de alimentos também impulsionou Sihala no desenvolvimento de uma modesta cavalaria. Um Oumaji jamais perde a oportunidade de domar cavalos. É algo que está no sangue do povo do deserto desde os tempos imemoriais.
As lendas narram a história do primeiro Oumaji, uma criança nascida da barriga de um peixe que veio morrer nas praias do sul, e que teria sobrevivido ao ser adotada pelos cavalos selvagens e criada como um deles.
O mito dá conta do amor daquele povo pelos animais do prado.
A posição de liderança e centralidade em relação às vizinhas, fez com que Lim crescesse rapidamente. Enriquecida pela diversidade de recursos à sua disposição, a cidade do vale central foi naturalmente assumindo o papel capital daquele território, onde acordos e normas eram negociados e disputas eram arbitradas.
No extremo dessa nova rede de cidades, em Lala, Jiam foi apresentado a um homem excêntrico, conhecido como “o caçador”, que dominava o conhecimento sobre como subir as montanhas e sobreviver nas terras geladas. O Caçador tornou-se guia do grupo que estava prestes a empreender a mais perigosa expedição até então. A primeira parada seria na construção abandonada da montanha.
Antes:
Depois: