8. Areia mágica, pedra sagrada.

8. Areia mágica, pedra sagrada.

Após ansiosa espera, imposta pelo caçador, até que surgisse uma janela de clima favorável, numa manhã clara e fria o lacônico guia anunciou finalmente que a expedição poderia ter início. Jiam, Lahal e Jiamadu seguiram com seu grupo o taciturno homem e se embrenharam pela floresta gelada.

Desacostumados ao solo macio de neve, carregando pesados fardos de mantimentos e roupas de frio, os cavaleiros subiram lentamente a montanha até as ruínas do castelo. Chegaram exaustos, queixando-se do efeito da altitude e do vento frio e cortante.

As ruínas na montanha.

O caçador preparou um chá que, segundo ele, ajudava a amenizar ambos os incômodos e disse, sombrio:

“Não se queixem. Hoje foi um bom dia, pois ainda estamos vivos.”

Os expedicionários chegam às ruínas da montanha.

No dia seguinte, o Caçador acordou os homens silenciosamente, avisando que havia um urso por perto. Jiam e seus companheiros nem sequer sabiam o que era um urso mas, naquele dia, aprenderam como seguir a fera, andando contra o vento, para matá-la antes que fossem mortos por ela. Se impressionaram com o tamanho do bicho e fartaram-se com sua carne, enquanto o caçador explicava:

“Esse era dos pequenos. Os maiores são do tamanho dos seus cavalos e muito mais fortes. Por sorte são também mais lentos.”


Bahu e Dozo saíram de Limghla e viajaram para o leste seguindo a linha da costa, acompanhados por outros jovens cavaleiros de Sihala. O caminho escolhido, diferente da trilha mais ao interior que havia sido tomada por Jiam, os levou até uma encosta suave, junto ao litoral, que conduzia ao planalto do sul.

Os cavaleiros se escandalizaram ao entrar em contato com a bizarra areia branca que foi surgindo pelo chão até que recobria todo o solo daquela paisagem álgida e desolada. A “areia mágica”, como a chamaram naquele momento, se desfazia com o calor das mãos, transformada em água como milagre. Acreditando ter encontrado uma espécie de Shangri-Lá, o grupo adentrou extasiado aquela terra exótica, seguindo rumo ao sul.

Depois de já ter avançado muito além do ponto que lhes permitiria dar meia volta, perceberam-se em apuros. A temperatura caiu rapidamente e eles não tinham abrigos adequados para passar a noite, nem sinal de lenha para fazer uma fogueira. Quando já estavam se desesperando, Dozo subiu com seu cavalo em um talude e avistou uma aldeia, no meio da neve, junto à vertente oeste da montanha. Como as demais, essa aldeia também era ladeada por uma antiga ruína, que mal se podia divisar por estar coberta de neve. O grupo rumou apressado para o povoado. Era sua única chance de salvação e Dozo torceu para que aquele povo fosse amigável.

Aldeia na neve.

Muito longe dali, na ensolarada península de Yejion, um cavaleiro com espírito aventureiro fez algo que não era costume entre os Oumaji: ascendeu ao monte que dava nome à cidade, subindo a sinuosa e estreita trilha entre as pedras e o despenhadeiro, montado em seu cavalo.

Yejion.

Raramente se via alguém escalar os montes do deserto. Tidos como sagradas e veneradas como Deusas, as monumentais penhas amareladas que se elevavam da planície passavam anos sem receber visitantes. Não porque fosse proibido ir lá, mas porque não havia razão imediata para isso e os Yejis eram acima de tudo pragmáticos. O desgaste físico e tempo empreendido na incursão não seria recompensado com mais do que vistas majestosas e rochas pelando ao sol. As partes mais baixas eram acessadas cotidianamente por quem buscava variar seu cardápio com ovos de aves marinhas ou lagartos. O topo, embora mais rico em ninhos, já não compensava o esforço.

O sutil arremedo de trilha que havia era resultado das ocasiões em que rezadores e curandeiros que habitavam os templos da montanha faziam a subida para seus rituais. Era preciso ter cuidado pois as encostas escorregadias em meio ao vento forte que sopra do mar já haviam feito vítimas. No entanto, esse cavaleiro singular, chamado Tajin, foi movido por um novo espírito que emergira na península:  a curiosidade.

Maçom por profissão, Tajin era um amante e conhecedor das rochas que compunham o monte Yejion. Para os outros, todas as pedras eram iguais, mas Tajin sabia classificar cada tipo de rocado por suas propriedades, aplicações de cantaria e estética visual.

Nessa excursão, em busca de estudo e inspiração, o maçom deparou-se com uma rocha que nunca havia visto.

Quando o sol da tarde incidiu sobre um bloco solto à beira da trilha, os veios da pedra cintilaram como a via láctea no céu noturno. Fascinado, Tajin usou sua picareta para soltar um pedaço do material e levou consigo para casa, a fim de estudá-lo melhor.

Pouco tempo depois, fazendo negócios com um construtor de Lim, Tajin soube que uma das montanhas ao norte da capital era conhecida por ter um labirinto de cavernas alongadas como túneis. Imediatamente, o maçom mostrou ao parceiro de negócios a rocha rara que havia encontrado em Yejion e assim conseguiu convencê-lo a levá-lo até lá. Os dois não sabiam, mas aquela excursão mudaria o destino do povo Omaji para sempre.

Cavernas de Lim.

Antes:

Depois:

Daniel Mattos

Daniel Mattos

Nasceu em Petrópolis, em julho de 1975 e recebeu o nome de Daniel Vidal Mattos. Desde então está em busca de respostas sobre o que é ser Daniel Vidal Mattos, nascido em Petrópolis em julho de 1975. Não se parece com a foto aqui publicada.

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