II. Ritual Macabro
Santoro perambula pelos corredores procurando algum portão aberto, sem sucesso. Também não tinha encontrado nenhum segurança, o que já era bem estranho. Ele tenta forçar algumas portas de serviço, chama pelos funcionários. Nada. Começa a ficar preocupado de fato. Só agora se dava conta de que aquele shopping, de madrugada, era assustador. Os manequins sem rosto pareciam vigiá-lo.
Para piorar a situação, o celular estava sem bateria. Dia merda, noite merda. Santoro grita no hall principal.
– Alguém? Alguém!
Só escuta os ecos da própria voz.
– Ninguém.
Ele continua andando, dessa vez em direção à sala de administração. Impossível não ter algum filho da puta que pudesse ajudá-lo a sair dali. Enquanto caminha para o setor, Santoro começa a ouvir alguns sons abafados, ainda distantes. Algo ritmado. Quem estaria ouvindo música àquela hora? Ele tenta identificar a origem, e segue andando na direção do barulho. Pouco depois, já conseguia perceber que se tratava de algum tipo de cântico, acompanhado por batuques. Que merda era aquela, afinal?
Subindo a escada rolante parada, e seguindo por um corredor lateral, Santoro tinha chegado a um vão do segundo piso, onde finalmente podia ver o que estava acontecendo no hall de baixo. Dali, teve uma visão panorâmica de uma cerimônia bizarra: várias pessoas mascaradas, que pareciam lideradas por um sujeito vestido com manto e capuz, formavam um círculo ao redor de um caldeirão incandescente. Alguns tocam tambores, todos cantam. Santoro parece não acreditar no que seus próprios olhos estão vendo. WTF?
Aquilo não era possível. Ou melhor, obviamente tratava-se de uma piada. Uma pegadinha. Ele olha em volta procurando as câmeras. Deviam estar bem escondidas. Mas agora já estava achando graça daquilo. Quando Santoro começa a rir de todo aquele absurdo, percebe que um grupo de mascarados já estava atrás dele no corredor de cima, empunhando lanças afiadas em sua direção. A cantoria e os batuques são interrompidos. Voltando os olhos para a cerimônia, nota que todos ali estão olhando para ele.
Santoro é conduzido pelos mascarados até o centro do “espetáculo”. O líder circula em torno dele, que já não consegue disfarçar os sorrisos debochados.
– Ok, pessoal. Muito bom mesmo. Excelente essa caracterização, hein? Diz aí agora o que eu tenho de fazer…
Circunspecto, o líder encapuzado parece não gostar do que ouve, e reage com firmeza, usando uma linguagem no mínimo exótica:
– Ananá Kundê! Batanka fritá você!
Dois mascarados começam a amarrar Santoro com uma corda. A princípio, ele não oferece resistência e continua sorrindo, mas se incomoda com o nó arrochado em torno de seus pulsos.
– Isso aí já ta demais, galera. Pode afrouxar um pouquinho essa corda, por gentileza?
Os mascarados ignoram o pedido de Santoro, e começam a empurrá-lo para um tipo de palanque, posicionado ao lado do caldeirão. Agora a brincadeira estava passando dos limites. Podia sentir o calor emitido pela substância borbulhante.
– Ei! Ei! Tão ficando malucos?! Que porra é essa?!
Santoro tenta resistir, mas os mascarados o acuam com as pontas de suas lanças, metal bem afiado. Sem opção, ele sobe a pequena escada que leva ao tablado que se projeta sobre o caldeirão. Já tinha levado algumas estocadas doloridas, e agora vários deles o cutucavam para que ele saltasse dentro do líquido fervente. Definitivamente, aquilo não era uma brincadeira.
– Socorro!!!!!!!!