9. O Encontro

9. O Encontro

O castelo em ruínas era estrategicamente localizado na encosta nordeste do Monte Lala, protegido do vento do mar e com acesso fácil à caça nas florestas em torno. Jiamadu não pôde deixar de notar que aquela construção abandonada era muito diferente das ruínas que quase o esmagaram em Limghla. A construção sobrevivente, feita de granito cinzento, era muito mais rústica do que a belíssima estrutura em arcos que ele vira na planície, mas tinha um elemento em comum: uma entrada escondida, que o levou até uma câmara, cujo centro repousava uma urna de pedra idêntica à anterior.

Não foi difícil convencer os companheiros a juntar forças e remover o pesadíssimo tampo do túmulo. Dentro da peça, junto a uma ossada humana, encontraram objetos dourados e prateados, além de pedras translúcidas de diferentes cores, algo que nunca haviam visto. Com mais essa descoberta, Jiamadu recebeu dos companheiros o apelido de Caçador de Tesouros.

Após distribuir os tesouros e comida entre seus bornais, os companheiros seguiram viagem. Chegaram à encosta sul da montanha, onde havia um desfiladeiro. Logo abaixo do ponto onde poderiam acessar uma trilha descendente pela encosta, avistaram um pequeno grupo de homens de aparência bizarra. Vestiam-se com capas de pele de urso e usavam capacetes com chifres. “São os Bardur e isso não é bom”, disse secamente o Caçador, como de costume.  

Os estranhos também avistaram os cavaleiros no alto da colina e criou-se um momento de tensão, até que o líder deles acenou em sua direção de forma intrigante. 

Os cavaleiros não entenderam o que o aceno significava, mas Jiam respondeu com um aceno Oumaji que o estrangeiro certamente também não entenderia e observou enquanto os homens sumiram entre as árvores.


Fustigados pelo vento gelado, Bahu, Dozo e os cavaleiros de Sihala adentraram cuidadosamente a pequena vila nevada, aninhada junto do paredão rochoso que marcava a raiz da montanha.

Não havia vivalma do lado de fora das cabanas circulares e semi enterradas, mas a fumaça fina que escapava dos telhados e era arrastada pelo vento denunciava a presença de seus ocupantes. Ninguém se apresentou ou os interpelou enquanto cruzavam a vila. Dozo imaginava se era por frio, medo ou ardil que os locais se mantiveram escondidos.

Quando chegaram ao outro lado, a curiosidade de Bahu o atraiu até as ruínas de pedra cobertas de neve. Entre os menires, abrigadas do vento frio da planície, prosperavam grandes coníferas dos meio das quais o jovem viu sair um vulto aterrorizante.

Ao mesmo tempo, perto da ruína, Dozo e os outros se depararam com homens de uma raça exótica. Envoltos em peles e montando feras, os estranhos pareciam ter chifres. Frente à frente com um deles, Bahu acreditou estar diante de algum tipo de demônio e instintivamente preparou seu tacape.


Mesmo em extremos opostos do deserto, as cidades de Limghla e Yejion cresceram com a exploração da mesma atividade: a extração e beneficiamento do fruto de cacto. Essa paridade foi resultado direto do intercâmbio cultural promovido pela aliança Oumaji, cuidadosamente desenvolvida pelas lideranças de Lim e das demais cidades desde a revelação de Jiam. Se estivesse em sua terra natal, o líder ficaria feliz em ver quão rapidamente sua visão ia se concretizando.

Mas não foi só pela farinha do cacto que se expandiu a sapiência do povo de deserto. A descoberta de Tajin, o pedreiro de Yejion, e seu parceiro construtor de Lim deu início ao que seria uma revolução tecnológica. Para obter mais daquelas pedras fascinantes que havia encontrado, a engenhosa dupla desenvolveu um conjunto de técnicas e ferramentas que daria origem às práticas do alpinismo e da mineração naquela cultura.  Mais tarde, colocando as pedras recém descobertas no forno de cerâmica, descobriram que o material brilhante da pedra se amolecia e separava da rocha. Purificado, aquele material metálico tinha propriedades únicas que, exploradas adiante, deram origem à metalurgia. Da semente da curiosidade, germinou o broto de uma civilização.

Mapa da terra Oumaji na Era de Jian.
Daniel Mattos

Daniel Mattos

Nasceu em Petrópolis, em julho de 1975 e recebeu o nome de Daniel Vidal Mattos. Desde então está em busca de respostas sobre o que é ser Daniel Vidal Mattos, nascido em Petrópolis em julho de 1975. Não se parece com a foto aqui publicada.

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