As Night, os Cover, os Motorista de Táxi e as Anna

As Night, os Cover, os Motorista de Táxi e as Anna
Banda Queen Tribute Brazil

“Dia 04/03 vai ter uma banda cover do Queen no Rock Bar, Jockey, pra fechar a temporada. Anima?”

Foi assim que chegou o convite da amiga, uma das poucas pessoas do segundo grau com a qual mantive contato até hoje.

Só que como agora não sou mais o adolescente daquela época (tenho o hábito de dormir às 10:00…), respondi com uma outra pergunta:

“Sabe o horário? Ou é tipo sem hora para começar…? “

 E ela respondeu:

“Eu sei que das 21 às 22 mais ou menos fica uma Dj (mto boa, com músicas anos 80) e o show começa em seguida. Mas pode atrasar um pouco, sabe como é?”

Sim, sei como é… não tem hora para começar. Pqp…

Esse é um hábito que nunca fez sentido para mim: a Night começar tarde. Por quê? Especulo que as matinês das danceterias no início dos anos 90 tenho algum papel nisso. Afinal, tornou-se lugar comum utilizar o termo “matinê” para zoar alguém que, por determinação dos pais, tinha horário para chegar em casa. Uma forma de você se dizer independente passou a ser sair tarde.

Deixando essa teoria nada científica de lado, eu sempre observei o gosto das pessoas de querer começar a Night tarde. Até o início de minha fase adulta, tinha o hábito de passar todos os verões na casa de meu avô, na Vila Muriqui, Costa Verde do RJ, que de vila hoje em dia não tem mais nada. É um distrito balneário que acabou ficando maior do que a cidade da qual faz parte, Mangaratiba. Tínhamos o hábito de ir todas as noites para a pracinha central, ao lado da estação do trem, para fazer aquilo que todo pré-adolescente gosta de fazer: tomar sorvete, falar merda e tentar dar beijo na boca. No início, saímos de casa em torno de 19:00. Mas a cada novo verão, as saídas começaram a ser atrasadas em cerca de meia hora, o que significa que, antes do fim da adolescência, não se saía antes de 22:00.

E acha que parou por aí? Claro que não. O auge da insanidade noturna (ou o meu limite, pelo menos), veio com a deliciosa festa A Maldita eternizada na Casa da Matriz (embora tenha passado por outros endereços) e que, embora anunciada para às 22:00, nada acontecia antes de 00:00. Acho que nem os seguranças chegavam às 22:00. Mas o toque de sofisticação está em um detalhe: a festa acontecia às segundas-feiras!

Voltando ao convite, mesmo sabendo que o show começaria tarde, minha digníssima (ainda mais reclusa e antissocial do que eu) topou ir. Ela ainda tentou me fazer desistir após eu dar a notícia de que não havíamos conseguindo reservar mesa, mas cedeu. Afinal, nem era segunda-feira…

Prontos para sair (com atraso, pois, como disse, a digníssima estava indo), chamei o táxi por aplicativo. Táxi mesmo. Desinstalei Uber.  Tudo bem que não era de ser esperar  que aquele serviço de excelência quando de sua estreia duraria para sempre. Mas Uber se tornou um serviço para lá de safado, às vezes mais caro que táxi, e com possibilidade maior de encontrar um vagabundo ao volante usando o serviço como armadilha.

O aplicativo do táxi estava lá “à procura” e nada. Sim, é bem mais difícil conseguir um táxi na zona norte do que na zona sul do Rio de Janeiro. Finalmente um aceita a corrida. Mas, em seguida, telefona para mim. Aí eu pensei: “Pronto… ligou para perguntar qual será o destino…” Pois essa é uma das práticas dos motoristas de Uber que mais me irrita. E a prática deveria estar agora sendo seguida pelos taxistas.

Mas, não. O bom samaritano telefonou apenas para avisar que o ar-condicionado do carro dele estava quebrado, caso eu quisesse cancelar e chamar outro. Pensei comigo, “já passou do horário que combinei com minha amiga lá no bar, sei lá quanto tempo outro táxi vai demorar para aceitar a corrida, e são quase 10 da noite. Já não está tão calor assim.”

Mas é verão no Rio de Janeiro, amigo. Quando o táxi parava, a sauna ligava.

Chegamos no tal do The Rock Bar umas 22:15 e passamos por uma pequena fila para pegar a entrada. Cinco passos adiante, o bilhete é entregue a uma hostess, o que nos fez indagar quem seria o gênio da organização que bolou, como posso dizer… a eficiente organização.

Entregue o bilhete e calorosamente apalpado por um marmanjo em busca de minha AK-47, finalmente lá dentro a parada já estava bem cheia. Lugar bem transadinho, música boa, decoração temática. Encontramos o casal que havia nos convidado e eles já foram logo oferecendo a garrafa de espumante convidativamente mergulhada em um balde de gelo. Gente chique é outra coisa. Mas eu preferi seguir para a imbatível Caipirinha.

Conversa vai, conversa bem, comecei a olhar em volta em busca de algum outro conhecido. Não encontrei nenhum, mas tive uma triste revelação. Sabem daquela máxima “O Rock morreu!”? Pois pude constatar que é a mais pura verdade: a média da faixa etária era mole maior que 40 anos. Paciência, como eu tenho mais de 40 anos, então está bonito.

Pois bem, apesar do horário, estava achando a noite bem agradável. Mais espumante, mais caipirinha, a amiga confundindo The Smiths por Simple Minds (🙄), o marido dela teimando que Standing on a Beach, do The Cure, era um álbum ao invés de uma coletânea (🙄), boas risadas.

Mas o ponteiro foi andando, onze, onze e meia, meia noite, meia noite e meia…  e nada da porra do show começar. Aí finalmente encontrei um conhecido: o mau-humor.  Já é amanhã e os caras não iniciam o show! Provavelmente, um belo exemplo de capitalismo escroto: a casa não deixa o show começar no horário para esticar a consumação. (ou pelo menos essa é minha teoria mau humorada)

Enfim, o show começou então à 01:20 da madruga… Beleza. Esquece o velho mal-humorado de lado e vamos curtir. De forma geral, gosto de Queen e o som da banda cover estava muito bom, bastante parecido com o original, apesar de que a voz do Freddie estivesse muito baixa.

Do vocalista, você quis dizer, não?  Não, chamei de Freddie mesmo porque não apenas ele tinha uma voz razoavelmente bem semelhante, mas ele FINGIA QUE ERA O FREDDIE MERCURY!! Roupas, cabelo, bigode, trejeitos. Ele inclusive falava coisas em português COMO SE FOSSE UM ESTRANGEIRO FALANDO COM SOTAQUE!!!!

Aí, porra, eu comecei a achar a parada esquisita, meio que ridícula. Pois se a proposta não era apenas tocar uma música boa, mas também de uma representação teatral da própria banda, como se o Freddie “estivesse ali de fato”, então eu quero o guitarrista com uma Red Special na mão e uma cabeleira poodle branco e um baterista com o backing vocal mais agudo da história do rock!

As altas horas podem ter prejudicado minha apreciação, mas acho que o show teria sido bem melhor se não tivesse essa palhaçada exclusiva do vocalista de fingir que era o Freddie. Me lembrou do show cover que eu fiz do Marillion no remoto 1994 (ou 95…) no qual o vocalista, xará Marcos, logo antes do solo de Kayleigh apresenta ao microfone: “STEVE ROTHERY!”, apontando para o guitarrista… NÃO, MARCOS, NÃO!!! Esse guitarrista que toca com a gente é o Alexandre Cabide!! Steve Rothery toca com o Marillion de verdade…

Enfim, 02:30, e para mim já tinha dado. Se o show tivesse começado até uma hora antes, provavelmente teria ficado até o final, mesmo com o dublê do Freddie. Mas agora o que eu queria mesmo era uma cama e, assim, despedi-me e chamei o táxi para ir embora. O primeiro que respondeu ao chamado foi digno de Uber e cancelou a corrida após ter aceito, mas em seguida consegui outro e 3:30 já deveria estar apagado em meu quarto.

Já falei da Night, do Cover e do Motorista de Táxi. E a Anna?

Já viram um meme que está circulando, dois caras na piscina falando assim: “Tudo que faz mal pra saúde mental começa com a letra A. Tipo Ansiedade, as Amanda, as Andressa, as Aline, e as PIOR DE TODAS: as ANNA!”

Os caras estão errados.

Marcos Felipe Delfino

Marcos Felipe Delfino

Nascido em 1975, Marcos Felipe, também conhecido como Marquinho, ou Marquito, ou Kinets, já tentou ser músico, fotógrafo e cineasta entre outras frustrações. Hoje é servidor público.

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