0. A Voz do Deserto
Num tempo antes da história, a tribo Oumaji vivia no deserto. Se para muitos pode parecer difícil, para eles sua terra era abençoada pelo sol. A imensidão habitada pelos Oumaji também era habitada por outra espécie de criaturas: os cavalos do deserto. Em tempos imemoriais, os Oumaji fizeram amizade com esses animais e, juntos, homem e cavalo dominaram extensões de território impensáveis para aqueles limitados ao comprimento das próprias pernas. No coração daquelas terras surgiu um líder, chamado Jiam, cuja dinastia entraria para a história, primeiro, pelas palavras ditas, ouvidas e então ditas de novo mas, muito depois, também pela palavra escrita. Jiam, que nasceu na aldeia de Lim, numa noite sem lua e muitas estrelas, teve uma revelação: a voz do vento no deserto lhe disse que explorasse o mundo e tornasse sua família numerosa como os grãos de areia no chão. A voz também lhe fez uma advertência: só pode haver um povo no mundo e esse povo é Oumaji.
A aldeia de Lim situava-se numa pequena planície entre cinco montanhas, conhecidas em Lim como “as cinco irmãs”. Ao norte, no seio da terra, entre duas delas estava o oásis de Lim, fonte de água e madeira para a vila. Além das montanhas havia uma pequena baía, mas nesse tempo os Oumaji não se interessavam pelo mar, pois naquela baía não havia peixes e a tribo não se aventurava muito longe. A leste, estavam mais duas irmãs, que formam uma barreira. Para os Oumaji era como se o mundo acabasse ali, naquela muralha de pedra amarela, que brilhava num dourado intenso sob o sol poente. Mas haviam dois largos vales a sul e a oeste, divididos pela quinta irmã. A oeste estava ainda um segundo oásis parte do mesmo aquífero do primeiro. Foi olhando para o vale sul que Jiam sentiu o chamado do destino e, numa bela manhã, montou seu cavalo partindo em viagem.
Logo que passou pelo vale sul e entrou em terras que nunca viu, Jiam avistou uma outra aldeia, menor e mais pobre que a sua. Acampando junto a uma mata de cactus ele decidiu que o povo daquela aldeia agora deveria ser parte de sua família.
Enquanto o líder Jiam viajava, seu filho mais novo, Bahu, discutia com a mãe e os anciãos pois gostaria de ter acompanhado o pai. Mas Jiam havia instruído especificamente que ninguém o seguisse. O filho mais velho obedeceu, mas o caçula não se conformava. Naquela mesma noite Bahu tomou uma decisão que mudaria seu destino.
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