As Vantagens de Ser Invisível
Quando eu assisti o filme há vários anos, já o havia achado excelente. Recentemente, minha filha pediu para eu comprar o livro para ela e, contagiado, resolvi ler também. É simplesmente espetacular.
As Vantagens de Ser Invisível é daquele nicho da literatura que a lingua inglesa possui um nome específico: “Coming-to-age novel”. Desconheço termo semelhante em Português, mas se trata de histórias cujo protagonista é um(a) adolescente, muitas vezes próximo a se tornar adulto, e que enfrenta as tormentas típicas dessa fase. Através dessas tormentas, o personagem percorre uma jornada na qual ele perde sua inocência e passa por um processo de transformação e crescimento pessoal, modificando sua visão de mundo e, assim, acabando por melhor compreendê-lo.
São inúmeros os títulos dessa categoria, como O Apanhador No Campo De Centeio, que já passou por minha lista de leitura, O Sol É Para Todos, também já lido e cujo título original é muito mais interessante (To Kill a Mockingbird), assim como Me Chame Pelo Seu Nome, este eu tendo visto apenas o filme – mas minha filha leu e amou…
Apesar do tema, não se engane em pensar que o livro, então, só seria interessante para pessoas daquela faixa etária. O filme eu vi com 30 e muitos anos e o livro li agora com 46. E simplesmente se tornou o melhor livro de todos os tempos da última semana.
De forma simples e despretensiosa, o texto lhe permite experimentar uma conexão direta e honesta com sentimentos e percepções que, muitas vezes, nós tratamos apenas dentro de nós mesmos.
Faço apenas um pequeno porém. (Mas não deixe de ler por causa disso, pois é ótimo, ótimo, ótimo!)
Cuidado porque agora terá SPOILLER!!
!!!!!!!!!!!!!!!! ALERTA DE SPOILLER !!!!!!!!!!!!!!!!
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Charlie, o personagem principal, é uma rapaz introvertido, com bastante dificuldade em se relacionar com outras pessoas, em ser um adolescente “normal”, seja lá o que isso significar. E, através de sua jornada, ele justamente encontra uma forma de pertencer, de se sentir normal.
Contudo, ele se resolve ao mesmo tempo em que aprende que foi abusado sexualmente durante sua infância por sua tia, a quem ele idolatrava. Ainda que tal plote funcione como uma revelação inesperada para o leitor, eu achei completamente desnecessário e, de certa forma, essa revelação diminui a essência do comportamento introspectivo de Charlie, dando-lhe uma explicação objetiva e exógena para seus tormentos psicológicos.
Não quero de forma alguma diminuir o problema real que é o abuso de crianças, constantemente por familiares próximos, e os traumas que esses abusos podem acarretar. Mas o livro, ao dar uma explicação para o transtorno de Charlie, involuntariamente parece dizer que todo transtorno da mente possui uma motivação perversa como origem. Mas, infelizmente (ou felizmente, sei lá, não parece haver um termo apropriado…), temo que nem sempre é assim. E que, na maioria dos casos, simplesmente não há qualquer explicação, a não ser os processos químicos cerebrais que nos fazem pensar como pensamos.